sexta-feira, 2 de maio de 2014




A idade da Lua

Você se sente estranha e fora do lugar.
Sempre diz isso pra mim.
Você sente dores nos pés e nas costas.
É o peso do mundo que tens que aguentar.
Você fecha os olhos, esperando sumir.
E eu pego sua mão pra você não ir.

Você é uma pedra rara, só poucos sabem o valor que tem.
A sabedoria da dor e a jovialidade do tempo.
Os olhos de águia e a voz da sereia.
Mãos de fada e pele de seda.
O silêncio da galáxia, a amplitude do oceano.
Você é uma pedra rara.

Você se sente estranha e talvez realmente não seja daqui.
Eu às vezes também me sinto assim.
Eu às vezes também quero fugir.
Eu não sei mais falar de você sem falar de mim.

Bety Fernandes
23/12/2013




quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Exercício para a liberdade.

Fotografia: Thais Lopes

















Sempre houve uma repressão desde que nasci não era imposta por alguém especificamente, mas era utilizada como uma forma de manipulação dos meus modos, do meu jeito, da minha pessoa, querendo moldar em mim uma personalidade que não era realmente minha.
Sempre combati, porém timidamente, ou melhor, preguiçosamente, um pouco para não deixar triste as pessoas que amo e que faziam aquilo comigo pensando ser o melhor pra mim. Mesmo porque, o mesmo havia sido feito com elas, (e elas não tiveram coragem de raciocinar se era certo ou errado).
Tentei combater melhor isso dentro de mim, mas essa fórmula de padrão social já estava meio incrustada na minha mente e foi necessário um exercício muito intenso e constante para poder retirar.

Quando já estava no caminho final desse exercício de libertação, cai de novo nas amarras dos padrões, dessa vez saindo de sob as asas fraternais e entrando nas asas de uma relação heteronormativa, submissa e fechada. Ao mesmo tempo em que aquilo me incomodava eu não conseguia me livrar, mesmo me debatendo muito.
Somente depois de muito tempo e muito sofrimento consegui me livrar novamente.

Hoje sou mais madura e consciente de tudo que aconteceu... Estou aprendendo ainda, mas agora com lições profundamente marcadas na minha história.

Voltei ao exercício de libertação, a minha libertação e também a do outro. Que eu não tenho a obrigação de sofrer pela felicidade dele, se eu o fizer deverá ser bom pra mim também, eu preciso de uma recompensa afetiva e moral de estar tão próxima.  Estou exercitando o EU, quero ser EU, sem ter que me espelhar em ninguém, quero ser só EU e pronto, não ter vergonha do que eu visto ou falo, não ter vergonha do meu corpo ou da forma que eu ajo.

Também na questão afetiva e em relação a mim mesma, se estou gostando do que estou fazendo, se isso me dá prazer em fazer e na questão moral, se isso que estou fazendo não vai pesar na minha consciência, se o que estou fazendo é certo ou errado dentro do meu julgamento.

Quando eu morrer, quero morrer livre das coisas e das dores morais dessa vida, meu corpo pode até apodrecer porque é só uma casca, mas quero levar a riqueza de uma vida liberta.


Elizabete Fernandes
18/06/2013.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ajuda-me


Me tira daqui.
Se arrependa e volte.
Me socorre.
Cumpra o que prometeu.
Me proteja, me proteja do horrores dessa vida.
Dos amores bandidos que me roubaram a alma.
Volta e me tira desse poço fundo.
Me impeça de tropeçar, me segure.
Me segure firme pelas mãos, pelos braços.
Me enlace no seu abraço.
Me beije, me mostre novamente o seu mundo.
Me resgate dessa prisão, me socorre.
Me mostre o seu mar, o seu céu, me dê do seu ar.

É tudo que eu preciso pra continuar.
Ontem, estive pensando.
Pensando tanto e em tudo, até agora, tudo isso, em nós.
Tudo isso em tão pouco tempo, toda essa energia, todo esse sentimento.

Mas.
Ao mesmo tempo não quero pensar.
Vigio-me para não pensar.
Prefiro evitar.

Por que.
Eu só quero sentir, só quero fixar.
Cada minuto, na minha memória.
Minha memória de você.

Não quero pensar no tempo.
Se esta sendo lento ou rápido demais.
Se estou indo alto ou raso demais.
Se esta quente, queimando, se vou me machucar.

Eu.
Só sei que quero estar
Neste momento
Por perto
Ao lado
De preferência
Dentro do seu abraço.






A gente passa metade da vida vivendo a vida do outro e esperando pacientemente, usando toda a estrutura mental, corporal e psicológica que tem, aguardando e cuidando para que ele um dia fique bem e enxergue e reconheça tudo que você esta fazendo.

Mas esse dia não chega e você não aguenta mais e tudo que foi construído começa a ruir até não haver mais nada.

Ainda assim, você acha que essa pessoa, ainda vai ter consideração por você, pela história em comum, e mesmo cada um seguindo seu caminho e tentando ter um pouco de harmonia social entre si, essa pessoa continua a te machucar de alguma forma. Se antes era com o egocentrismo exacerbado, o egoísmo dos sentimentos, a frieza dos atos,  agora esfrega na sua cara tudo aquilo que fez questão de não te dar, mesmo dizendo que sim, sentia.

Mas, a culpa não é do outro, ele fez o papel que lhe coube, a culpa é sua, pois foi você mesma que permitiu isso acontecer. Por inocência, por esperança, por amor, por tudo isso junto? Não sei, talvez sim, talvez por mais coisa que ainda não foi possível dar adjetivo... Mas, foi você que permitiu que esse trauma se instalar, agora é começar outra luta para expia-lo. 


*originalmente escrito em algum dia entre os meses de julho e agosto.